O
mercado de contratos de seguros de Responsabilidade Civil Ambiental
deve crescer em 2014, e parte da expansão do mercado deve-se ao
rigor da legislação ambiental brasileira. A opinião é de Roberto
Dalla Vecchia, diretor executivo da AD Corretora de Seguros e
especialista na área de Petróleo e Gás. Em entrevista ao site
Petronotícias, ele disse que o contrato é destinado à demanda de
poluição, seja ela súbita — como em um acidente industrial — ou
gradual — casos de vazamentos discretos de tanques em postos de
gasolina, contaminando o lençol freático.
O
seguro cobre as custas do processo, as perdas financeiras, danos
pessoas, materiais, além de garantir apoio para a análise,
identificação e tratamento dos riscos ambientais, informou o
advogado. De acordo com Dalla Vecchia, entre as áreas que mais
buscam o modelo de contrato, estão indústrias químicas,
siderúrgicas, indústria de cosméticos, alimentícias, empresas de
papel e celulose, laboratórios analíticos e/ou
ambientais.
Leia
a entrevista de Roberto Dalla Vecchia ao site
Petronotícias:
Qual
é o objetivo de um seguro de Responsabilidade Civil Ambiental?
Dalla Vecchia — O objetivo é atender à demanda de poluição súbita
ou gradual. A poluição súbita é aquela ligada a uma indústria, um
armazém, que de repente sofre um acidente. Um exemplo é o caso
daquele derramamento de açúcar queimado em Santa Helena, que
escorreu até os rios da região. Já a poluição gradual ocorre quando
o tanque de um posto de gasolina, por exemplo, começa a vazar
discretamente, contaminando os lençóis freáticos. Entre os maiores
acidentes em Óleo&Gás, destaco a famosa catástrofe do Alasca
ocorrida em 1989. O vazamento de óleo despertou providências
maiores em favor do meio ambiente e por uma cobertura para os
prejuízos das empresas: na época, a Exxon chegou a tremer
financeiramente. Aqui no Brasil, a Petrobras se envolveu no
derramamento de milhões de toneladas de óleo na Baía de
Guanabara.
De
forma ampla, qual é a cobertura oferecida? Dalla Vecchia — Além dos
danos ambientais, o seguro inclui as custas judiciais do processo,
como honorários advocatícios, e as perdas financeiras. Por exemplo,
se aquele shopping paulista construído sobre um lixão tivesse um
seguro como esse, estaria protegido dos embaraços. Deixamos claro,
no entanto, que o seguro não cobre multas: subentende-se que a
multa é consequência de uma falta individual da empresa.
Cobre
também os prejuízos provocados a um povoado local? Dalla Vecchia —
Danos pessoais e também materiais estão abrangidos. O seguro cobre
toda a responsabilidade da empresa ao transportar, produzir ou
operar materiais perigosos, incluindo prejuízos aos habitantes
locais.
Qual
é seu parecer sobre a legislação ambiental brasileira? Dalla
Vecchia — É importante saber por que no Brasil se contrata mais
seguro: justamente porque aqui há uma legislação bastante forte. A
Lei 6.938, de 1981 (Política Nacional do Meio Ambiente), determina
que as atividades precisam de um licenciamento ambiental, levando à
fiscalização na construção de rodovias, hidrelétricas etc. Hoje
temos também uma política nacional de resíduos sólidos, de 2010,
para o caso de resíduos nocivos ao meio ambiente.
O
seguro ambiental tem mercado em quais setores? Quais são os tipos
mais comuns de clientes? Dalla Vecchia — Indústrias químicas,
siderúrgicas, indústria de cosméticos, alimentícias, empresas de
papel e celulose, laboratórios analíticos e/ou ambientais. Além
disso, empresas de energia, como usinas hidrelétricas e
termelétricas. Mas até as eólicas também trazem danos ao meio
ambiente: seja aos pássaros da região ou durante a própria
fabricação dos equipamentos eólicos. O seguro abrange todo o
universo da indústria, de diferentes formas. Também abrange o
transporte de resíduos ou descartes perigosos.
Em
relação ao setor de petróleo e gás natural, como ocorre o seguro?
Dalla Vecchia — A área de Óleo&Gás tem um tratamento
específico, porque segue toda uma orientação de cobertura na
categoria “riscos de petróleo”. Aqui no Brasil, as apólices de
riscos ambientais foram trazidas e desenvolvidas principalmente
pelas seguradoras multinacionais. No caso de Óleo&Gás, ainda
dependemos muito das coberturas do resseguro que vêm do exterior.
Para as coberturas mais complexas, o risco precisa ser bem
distribuído entre as resseguradoras. Um dos custos mais pesados
seria a limpeza e recuperação da área afetada.
Quais
são os riscos ambientais envolvidos nas siderúrgicas? Dalla Vecchia
— Entre os riscos de uma siderúrgica, destacaria a explosão de
fornos, com derramamento do material incandescente, e vazamento de
substâncias tóxicas. Por exemplo, no ano de 2012, em Volta Redonda,
o Ministério Público Federal moveu uma Ação Civil Pública devido à
poluição de uma grande siderúrgica. Além disso, a siderúrgica que
não tem seus filtros ajustados ou adequados está submetida a grande
risco de poluição do ar. As empresas sérias hoje se adaptam e se
submetem ao ISO 14000 e ao ISO 14001, normas que tratam da
mitigação de danos ambientais. Se uma empresa detém o ISO,
significa que usa todos os critérios para descarte de material e
gerenciamento desses riscos. Nesses casos, a própria seguradora
considera uma taxação menor.
Quando começou a surgir o seguro ambiental no
Brasil? Dalla Vecchia — Os produtos principais no mercado começaram
a surgir há cerca de cinco anos, quando as seguradoras decidiram
desenvolver uma cobertura mais especifica. Se hoje várias empresas
ainda não buscam o seguro, é porque a quantidade de ocorrências não
chegou ainda a abalar a companhia. Nós mesmos começamos a atuar com
empresas internacionais que vinham para cá (química e
petroquímica). Outro motivo foi a existência de um longo monopólio
de resseguro pelo Instituto de Resseguros do Brasil.
Como
funciona o seguro no caso de terceirização do transporte de
resíduos perigosos? Dalla Vecchia — Quem faz esse transporte são
empresas especializadas que geralmente contam com o seguro. Ainda
assim, a empresa que contratou a transportadora pode ser
responsabilizada. Em caso de catástrofe, a transportadora responde
legalmente, mas a indústria também recebe os efeitos legais por ter
gerado aquele produto.
Qual
é a expectativa para 2014, especialmente nesse mercado de seguros
de Responsabilidade Civil Ambiental? Dalla Vecchia — Daremos um
passo ainda maior que nos anos anteriores. É um seguro que está em
crescimento gradativo, devido aos costumes do mercado brasileiro.
De fato, as primeiras apólices foram internacionais. Além disso, a
maturação do que plantamos em 2013 é longa. Estamos focados nas
atividades em que a necessidade do seguro é maior e onde vamos
trabalhar com foco nesse desenvolvimento. Em algumas situações, uma
empresa não adquire determinado ativo, devido a um passivo
ambiental. Para mim, essa conscientização está caminhando e minha
expectativa é de aumento este ano.