Receita do setor atingiu R$ 15,7 bilhões, menor arrecadação desde
fevereiro de 2016
A receita do setor
segurador brasileiro caiu 21,4% em abril, em relação ao mês
anterior, e 26,1% na comparação com abril do ano passado, atingindo
R$ 15,7 bilhões, menor arrecadação de prêmios desde fevereiro de
2016, quando somou R$ 15,026 bilhões. Os números foram divulgados
hoje (17), no Rio de Janeiro, e não incluem saúde suplementar e o
seguro de Danos Pessoais por Veículos Automotores
Terrestres.
O presidente da Confederação
Nacional das Seguradoras (CNSeg), Marcio Coriolano, analisou em
entrevista à Agência Brasil que o resultado já era esperado e
reflete os impactos da pandemia do novo coronavírus. Como o
isolamento social para evitar a disseminação do vírus foi decretado
em meados de março, aquele mês não refletiu a queda da produção e
do consumo como ocorreu em abril. “Mas em abril, como o mês veio
cheio, a queda foi forte”, comentou Coriolano. O presidente da
CNSeg observou que a retração registrada no mercado de seguros não
ficou muito distante da queda que tiveram a produção industrial e o
varejo, no período. “A queda está em linha com o que aconteceu nos
demais setores da economia, o que é natural”. O setor de seguros
responde aos estímulos de produção e de consumo.
A queda de 26,1%
comparativamente a abril do ano passado é explicada porque 2019
começou “meio tímido” para o setor segurador e só veio a crescer
mais em relação a 2018 no segundo semestre, revelando taxas
crescentes a cada mês, atingindo no final do ano expansão de 12,1%.
No primeiro quadrimestre de 2020, em relação aos quatro primeiros
meses do ano passado, houve queda de 1,1% na receita, que totalizou
R$ 80,2 bilhões.
Marcio Coriolano acredita que a
partir de maio e, mais fortemente, depois de julho, a comparação
será feita com um ano difícil, impactado pela covid-19. Com isso, a
expectativa é de taxas cadentes nos próximos meses, em termos de
produção e volume, porque as políticas do governo não deverão ainda
ter obtido o resultado previsto. O desempenho vai depender da
flexibilização das medidas de distanciamento e da mobilidade dos
consumidores.
Coriolano destacou um ponto
importante para os resultados do setor, que é a circulação de
pessoas e dos corretores que promovem a venda dos seguros e têm um
papel importante na distribuição dos produtos. O presidente da
CNSeg acredita, no entanto, que a retração que o setor vai sofrer
por conta da pandemia terá alguma compensação mais à frente. “Não
se sabe em que momento e em que condições”, manifestou. Mas tal
como já começa a ocorrer em países da Europa, da América Latina e
nos Estados Unidos, a percepção é que será despertado nos
consumidores o sentimento da aversão ao risco.
Marcio Coriolano ponderou que
para a geração mais nova, esta é a primeira vez que tem contato com
uma pandemia dessa dimensão e com essas características. “E todo
mundo sabe que a disseminação dessa doença (covid-19) tem a ver com
as condições de saneamento”. Por isso, destacou que não é à toa que
o novo coronavírus tem afetado mais as comunidades mais pobres das
capitais, o que é muito preocupante. Daí a aprovação do marco legal
do saneamento ser importante para garantir condições melhores de
sobrevivência para as gerações futuras".
Isso poderá contribuir para que
as pessoas vejam o seguro como uma forma renovada de se protegerem
não só da pandemia, mas de toda sorte de riscos que vão estar mais
evidentes a partir de agora. “Eu acho que isso também desperta um
sentimento de se proteger melhor. Abre a oportunidade para as
pessoas terem produtos que vão surgir renovados, com coberturas
diferentes e que vão se ajustar à perda de renda que a população
teve”. O presidente da CNSeg avaliou que, nesse cenário de perda de
renda e aumento do desemprego, apesar da inflação baixa, o mercado
de seguros vai ter que observar bem o que esse consumidor novo vai
querer em termos de proteção a riscos e também adaptar as
coberturas ao bolso dessas pessoas.
O segmento de Cobertura de
Pessoas, que representa mais da metade da receita total, foi o que
mais contribuiu para a retração dos negócios em abril, registrando
queda de 28,8% sobre março, devido às restrições à mobilidade
gerada pela pandemia, o que comprometeu o acesso aos postos de
distribuição dos produtos. Dentro da cobertura de pessoas, o
destaque eram os planos de risco, que cobrem morte, invalidez e
doença, e os planos mais tradicionais referentes à família e
pessoas, como os seguros de vida. O crescimento de Cobertura de
Pessoas vinha sendo superior ao dos demais ramos de seguros desde
2017.
De acordo com dados da CNSeg, o
comprometimento da mobilidade afetou também os produtos de
acumulação (previdência privada) como o Plano gerador de benefício
livre (PGBL) e o Vida gerador de benefício livre (VGBL), que não
puderam responder positivamente ao início do ciclo baixo da
economia. No seguro VGBL, por exemplo, a queda encontrada em abril,
em relação a igual mês de 2019, atingiu 51,3% e, no PGBL, foi de
7,4%.
No segmento de Danos e
Responsabilidades, que responde por 37% de 'market share' (quota de
mercado), a redução relativa foi de 8,8%. Neste segmento, os ramos
que mais pesaram na desaceleração foram o de responsabilidade civil
(-21,2%), garantia estendida (-17,3%), automóveis (-13,5%) e
erédito e garantias (-12,7%). A capitalização também foi afetada
pela quarentena, recuando 18% em abril em relação a março.
Segundo Marcio Coriolano a
volatilidade vai continuar em função também do mercado financeiro,
afetando o setor segurador. Observou, ainda que, também em função
da pandemia, o resultado acumulado até março, que era de 12,5%
positivos, caiu 2,4 pontos percentuais na média móvel de 12 meses
encerrados em abril, atingindo 10,1%. “A gente presume que, quando
chegar em maio, os dados vão cair mais”. A estimativa do presidente
da CNSEG é que a taxa em 12 meses findos em maio sofrerá queda da
ordem de 3,8 pontos percentuais.
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